Por Este Reino Acima

A palavra que encontro é “metamorfose”. Assim me parece o processo que está em curso: no meu país, em concreto; mas na realidade é uma metamorfose global. Estamos num momento de aceleração do comportamento humano como nunca se tinha verificado antes na história da humanidade, nem sequer aquando da descoberta do fogo ou da invenção do automóvel. Corremos sem pensar para onde nos dirigimos, não queremos ficar para trás mas não sabemos onde fica a frente, agitamo-nos nevróticos com a quantidade de solicitações, mensagens, informação urgente mas inútil, notificações de mensagens à espera de tempo para serem lidas para depois concluirmos que tudo nos rouba tempo. A grande metamorfose da nossa época é a perda do controlo sobre o nosso espaço pessoal. Dia e noite algemados ao telemóvel, conectados com o mundo, online com a realidade global, esquecemo-nos de cultivar a relação lenta e serena com nós próprios.  

Menos velocidade, menos quantidade de informação, menos disponibilidade para sermos contactados, menos sinal, menos gigas por segundo, mais horas offline. Menos futuro, mais tradição. Menos ecrã, mais introspecção. Menos sofá, menos aquecimento central, mais gravilha, mais nortada, mais ar livre. Mais actividade física, menos ginásio. Menos livros de auto-ajuda, mais leveza espiritual. Menos tendências da moda, mais cores de Outono e aromas de Primavera. Menos festivais, mais silêncio. Menos rotinas urbanas, mais caminhadas pelos bosques de Portugal. 

A minha viagem está a terminar, mas é só a estrada que chega ao fim; o viajante continua, não se detém. Mantenho o processo de metamorfose ao contrário. Como alguém terá dito há muitos séculos atrás, sigo caminho para me aproximar da minha essência.