Grajagan
Ao redor, estende-se uma densa floresta tropical, habitat de tigres, cobras, escorpiões, mosquitos portadores de malária. Na ponta do cabo quebra a onda de surf mais perfeita e consistente do mundo, a onda de G-Land. Calhou de ser ali: a orientação do litoral neste canto da ilha de Java, a potência e a constância das ondulações do Oceano Índico, a direcção dos ventos predominantes e sobretudo o desenho da bancada de coral permitiram esse milagre da Natureza. Estas ondas quebraram aqui durante milhões de anos sem ninguém reparar nelas. Nenhum ser humano sequer se aproximou, muito menos tentou deslizar por aquelas paredes líquidas e translúcidas. Eu chego hoje, permaneço uma semana, depois regresso à vida normal. Elas, as ondas continuarão a quebrar ali por outros milhões de anos, indiferentes à minha breve e extasiada passagem. Eu sou, como as pessoas na praia de Grajagan, um ponto suspenso no tempo que passa.
Uma engrenagem cósmica que a modernidade ainda não conseguiu adulterar. Impressiona-me esta ausência de infra-estruturas portuárias, esta dependência das fases da lua, do ritmo das marés, do estado do mar, este sentimento de tempo parado, de insignificância colectiva nas madrugadas serenas da praia de Grajagan. Tal como os homens nos botes e os homens na areia, também eu espero impotente que as condições naturais permitam navegar a barra, entrar no oceano, atravessar o golfo e alcançar o cabo Plengkung, a dez milhas náuticas de distância.